Você já imaginou conhecer um lugar livre de qualquer tipo de preconceito? Onde não há
religião, raça, sexualidade preponderante e que todos possam viver em harmonia?
Estou numa viagem emocionante pelo sul da Índia. Minha primeira vez no país e dentro de uma grande imersão espiritual promovida pela Govinda Turismo, agência especializada em roteiros espirituais pela Índia.
Depois de conhecer Chennai, partimos para Pondicherry onde fica a comunidade de Auroville.
Foi uma grande surpresa para mim, nem imaginava que estaríamos diante de uma verdadeira utopia: a vida baseada em valores hoje deixados de lado pela maioria das sociedades, como a perseverança, a gratidão, a coletividade, a sinceridade... a paz.
A proposta do lugar é a experiência da Unidade, progresso pelo caminho do coletivo e não do individual. O foco é a vida sustentável, um lugar onde as pessoas possam produzir tudo o que precisam para viver. É um processo de tirar da mente as aspirações materialistas, colocando em xeque o capitalismo, bem como o socialismo, pois ambos se mostram fadados e com sérias crises humanitárias.
Esse local na Índia foi escolhido pois jugou-se que haveria mais possibilidades dessa semente utópica dar certo aqui próximo a cidade de Pondicherry.
Para você entrar na Auroville não paga nada, mas muitas das atividades precisam ser agendadas com antecedência.
Pessoas do mundo todo vem fazer trabalhos voluntários por aqui. E esta semana tive o prazer de participar de 4 experiências inesquecíveis dentro da Auroville.
Templo Matrimandir
Há toda uma história sobre o templo de Matrimandir, porque foi feito, qual a filosofia do Sri Aurobino, os tantos porquês. Mas o que eu gostaria de relatar aqui é como foi minha experiência dentro do templo e tudo que vi.
Primeiro cabe lembrar que não podia levar nada consigo, completamente nada. Vários observadores ficavam atentos a qualquer movimento que fizéssemos e nos ameaçavam de nos retirar caso desobedecêssemos.
O templo é uma gigantesca obra de engenharia, fabuloso, impecável. Tudo para meditar.
Nos exigiam silencio absoluto a todo momento, depois de algum tempo nem era mais preciso, o silêncio dominava tudo.
E o silêncio foi tomando conta do jardim, e quanto mais nos aproximávamos da grande bola dourada de golf, mais o silêncio era intenso, profundo, contagiante.
A caminhada começa pela parte de baixo da bola, numa arena branca com uma bola de cristal ao centro. ao seu redor uma fonte de água é o único barulho que ouvimos. Meditados por um tempo e continuamos, agora para dentro da bola dourada.
A entrada na bola é por uma rampa, os pés descalços agora recebe meias brancas, e seguimos pela rampa toda em carpet branco. Alta, distante das paredes da bola, vamos ingressando firmemente.
Já bem em cima, na parte superior da bola, uma grande sala branca, com ar condicionado, paredes todas brancas, e ao centro uma enorme bola de cristal. Silêncio e meditação.
A sensação neste lugar é incrível. O silêncio faz parte do ritual, da energia. Foi uma das vivências mais inovadoras que já pude conhecer. Vale muito a pena esse encontro espiritual consigo mesmo. Inesquecível.
O que é preciso saber: a entrada no templo tem vagas limitadas e a reserva só pode ser feita na sala de reservas no complexo principal da Auroville. Nós só conseguimos entradas para dias depois e mesmo assim, infelizmente não conseguimos entrada para todos do grupo. As terças feiras é fechado. Conseguimos ingressos sábado para entrarmos na segunda. OBS.: a sala de reservas abre as 10h da manhã e os ingressos acabam em poucos minutos. Organize-se para ficar dias e com antecedência conseguir reservar. Ah, é solicitado o passaporte e somente você pode reservar a sua vaga, sem intermediários.
Meditação musical
Numa casa de instrumentos musicais da Auroville, pudemos conhecer e ouvir instrumentos de diversos lugares do mundo, fazendo jus a filosofia da comunidade de unir todos os aspectos do mundo e compartilhar o melhor de cada um.
Flautas, apitos, e diversos outros instrumentos conhecidos e outros inventados pela própria comunidade se misturam numa experiência profunda, por meio da meditação.
Numa sala no primeiro andar dessa casa musical, um condutor nos leva a deitar confortavelmente enquanto ele toca vários instrumentos. O som vai promovendo um ambiente leve e inspirador.
Foi a primeira vez que entrei em estado meditativo, quando você esta consciente de tudo que esta acontecendo ao seu redor, mas esta em profundo relaxamento. É o estado Alpha.
E foi completamente incrível, parecia que eu tinha dormido por horas.
As comunidades internacionais
As comunidades são as vilas onde os países são representados. Cada país adquire uma fração da terra e inicia suas atividades. Fui conhecer a comunidade Americana e também a tibetana.
Na americana, uma casa em madeira, horta, banheiros sustentáveis, paredes construídas com resíduos construídas por estudantes.
Já na tibetana, um local moderno, com salas de aulas, principalmente de artes. Foi Dalai Lama quem comprou a terra e deu início a parte do Tibete aqui. Foi ele também quem trouxe as 5 primeiras crianças que iniciaram a comunidade. Depois muitas outras crianças refugiadas devido a guerra do Tibete com a China também vieram morar aqui, muitas delas perderam totalmente as referências familiares, começando aqui uma nova vida.
Uma das primeiras coisas que me chamou atenção na Auroville é que o fato de ser uma comunidade autossustentável, não quer dizer que estão alheios a tudo que esta acontecendo no mundo, muito pelo contrário. Muita tecnologia transita por aqui.
A fazenda Solitude de permacultura
Uma das experiências mais incríveis que eu pude presenciar foi a permacultura na Fazenda Solitude. Uma experiência única reconhecer o valor dos produtos realmente órgânicos.
Quem nos recebeu e nos guiou pela horta foi o inglês Krishna que vive na comunidade há 26 anos. Como ele mesmo fala, enquanto todos os seus amigos iam para os Estados Unidos passear ele veio parar aqui. Uma missão de vida.
E a palestra que o Krishna ministra descalço no meio da terra e do mato é uma das melhores partes da vivência. E não ache que ele fala somente de geologia ou de agronomia, Krishna dá uma aula de economia, de sociedade, da relação do homem com a natureza, com o meio ambiente, inclusive questionando o Brexit e o ativismo da estudante Greta, que tanto tem chamado a atenção do mundo.
Começamos o passeio pela fazenda colhendo folhas e frutas, experimentamos, lavamos, cortamos e fizemos uma incrível salada de tudo aquilo. O inglês sempre nos explicando as propriedades de cada uma das folhas, uma mais saborosa que a outra.
No final, um almoço feito ali mesmo, forno a lenha, pratos milimetricamente organizados como no restaurante de qualquer chef importante e renomado. Incrível, transformador!
Bravo!
@paespelomundo
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